domingo, 24 de janeiro de 2010

Aquecimento Global: a Terra corre perigo ?

Aquecimento Global: a Terra corre perigo ?

Prof. José Goldemberg

Existem hoje seis bilhões de pessoas na face da Terra e cada uma consome em média oito toneladas de recursos minerais por ano. Há um século, a população era de 1,5 bilhão e o consumo era menor do que duas toneladas per capita. O impacto total hoje é 16 vezes maior (48 bilhões de toneladas). O homem se tornou uma força de proporções geológicas, já que as forças naturais (vento, erosão, chuvas, erupções vulcânicas etc.) também movimentam cerca de 50 bilhões de toneladas por ano.

Das 8 toneladas que cada ser humano movimenta, 1 tonelada é carbono lançado na atmosfera sob a forma de dióxido de carbono (CO2) que é o resultado da combustão de combustíveis fósseis.

A atmosfera da Terra é quase totalmente transparente à radiação solar incidente. Uma pequena fração dessa radiação é refletida de volta para o espaço, mas a maior parte dela atinge a superfície do planeta, principalmente sob a forma de luz visível, onde é absorvida e reemitida como radiação térmica em todas as direções sob a forma de radiação infravermelha (calor).

A composição da atmosfera é indicada na Tabela I: 99% dela é formada por nitrogênio e oxigênio que permitem a passagem de luz e calor, mas o dióxido de carbono não é transparente à radiação térmica, e atua como um “cobertor” ao redor da Terra, em conseqüência ela se aquece. O funcionamento é similar àquele que permite o crescimento de vegetais e flores dentro de estufas mesmo durante o inverno.

Tabela I: Composição da atmosfera

* em 1800 esta porcentagem era de 0,0028%

Download da Apresentação em Power Point da Aula Imaugural

O carbono que estamos lançando na atmosfera está mudando a sua composição e aumentando a espessura do “cobertor” que retém o calor do sol.

Na Lua, que não possui atmosfera, as temperaturas são muito altas quando o Sol ilumina sua superfície e muito baixas quando ele não o faz. Já no planeta Vênus, cuja atmosfera é composta de 96,5% de dióxido de carbono, a temperatura é superior a 800°C. A existência da atmosfera e de seus “gases de” efeito estufa (como o dióxido de carbono) permitem a vida na Terra. Eles atuam como estabilizadores contra mudanças abruptas na temperatura entre a noite e o dia. O aquecimento produzido depende da concentração e das propriedades de cada gás e da quantidade de tempo que os gases permanecem na atmosfera. Sem os “gases de” efeito estufa, estima-se que a temperatura média na Terra seria de 15 a 20°C abaixo de zero e não 15°C positivos como é hoje.

A concentração de dióxido de carbono na atmosfera é hoje de 0,036% mas era menos (cerca de 0,028%) há 200 anos, quando começo a Revolução Industrial.

O aumento da quantidade de “gases de efeito estufa” ou aerossóis altera a temperatura atmosférica e oceânica, a circulação associada e os tipos de clima. Essas mudanças se sobrepõem às variações naturais do clima.

A melhor informação disponível sobre mudança climática global é a avaliação cientifica do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), criado conjuntamente pela Organização Meteorológica Mundial (WMO) e pelo Programa no Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP) em 1988. Centenas de cientistas de um grande número de países têm participado dele.

Em 1990, o IPCC publicou um primeiro relatório que foi uma declaração investida da autoridade da comunidade cientifica internacional naquela época. Ele foi seguido por um suplemento, em 1992, que o atualizou, mas não mudou substancialmente as conclusões do relatório original, que foi atualizado em 1995 por meio de um segundo relatório.

Um terceiro relatório foi publicado no ano 2001 e as suas principais conclusões, reconfirmadas pelo quarto relatório de 2007, são:

• A temperatura média da superfície terrestre aumentou desde o fim do século XIX.

- A temperatura media subiu de 0,4 a 0,8 °C a partir de 1860.
- Globalmente, as temperaturas mínimas cresceram, a partir de 1950, com o dobro da velocidade com que cresceram até 1950.
- A década de 1990 foi a mais quente do século XX e o ano 1998 o mais quente do século.

• O aumento da temperatura media da superfície da Terra deverá se situar entre 1,5 e 4,5°C, quando a concentração de CO2 dobrar.
• O nível dos oceanos continua a subir.

- O nível dos oceanos subiu de 10 a 20 centímetros no século XX, devido à expansão da água. O aumento foi maior no século XX do que no século XIX.
- O aumento do nível dos oceanos deverá se situar entre 0, 14 a 0,70 metros até o ano 2100, e está se acelerando.

• A precipitação de chuvas continua a aumentar em muitas regiões.
• A cobertura de neve e gelo sobre os continentes continuou a decrescer.
• Estão ocorrendo mudanças nos padrões de circulação da atmosfera bem como um aumento do número de eventos climáticos extremos.

A Figura 1 abaixo mostra a mudança global da temperatura média da Terra, de 1860 aos nossos dias, e a Figura 2 mostra a evolução da temperatura média nos últimos mil anos.

Figura 1: Variações na temperatura da superfície terrestre nos últimos 140 anos


Figura 2: Variações na temperatura da superfície terrestre nos últimos 1000 anos

A evidência experimental estabelecida após 1950 prova que a composição da atmosfera tem, mudado desde o inicio da era industrial e que o ritmo de mudança está se acelerando.

A Figura 3 mostra o aumento na concentração de CO2 na atmosfera de 1958 a 1971. As oscilações justificam-se devido aos efeitos das estações sobre a vegetação.

Figura 3: Concentrações de CO2 em Mauna Loa (Havaí)

Figura 4: Mudanças do nível do mar

Figura 5: Mudanças observadas na cobertura de neve do Hemisfério Norte para março-abril.

Figura 6: Contribuição dos gases do “efeito estufa” para o aquecimento global em 2000

A contribuição do Brasil às emissões de gases de efeito estufa se origina no desmatamento da Amazônia como se pode ver na Figura 7. A queima de combustíveis fósseis (principal fonte das emissões) é pequena no país, mas as emissões do desmatamento da Amazônia são três vezes maiores.

Figura 7: Emissões brasileiras de dióxido de carbono


Figura 8: Maiores emissores de gases causadores do efeito estufa

Impactos das Mudanças Climáticas no Brasil

• Amazônia: savanização da floresta. Cobertura florestal cairá de 85% em 2005 para 53% em 2050.
• Semi-árido (Nordeste): clima mais seco devido à savanização da Amazônia.
• Zona Costeira: aumento de 40 cm do nível do mar no século 20. Sistemas de esgoto em colapso. Construções à beira-mar e portos afetados.
• Sudeste: tendência de aumento de chuvas.
• Região Sul: aumento de chuvas e de temperatura.
• Agricultura: culturas perenes migrarão para o Sul.
• Recursos hídricos: diminuição da vazão dos rios devido à evaporação, exceto no Sul.
• Grandes cidades: mais chuvas e inundações.
• Saúde: doenças infecciosas transmissíveis, como dengue, tendem a se alastrar.

Figura 9: Variação das temperaturas máximas e mínimas, em Campinas.


Face à mudança do clima, há somente três atitudes possíveis:

• Inação – não fazer nada e aceitar os danos futuros;
• Adaptação – quando possível, adaptar-se a um novo clima;
• Mitigação das emissões – reduzir as emissões líquidas antrópicas de gases de efeito estufa.

Tabela II: Medidas recomendadas pelo IPCC para mitigar o “efeito estufa”




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